"...Não sou poeta, um dia quem sabe serei.
Talvez na próxima estação de trem, ou em um inverno com sol.
Em canções em Ré Maior.
Em um bilhete dentro de uma garrafa.
Poetas são os outros, que em minha aldeia são recebidos com pompa.
Poetas que sobre a minha aldeia escreveu, sem se quer ter ido lá.
Que descrevem o canto da Sabiá, tal qual de uma Gralha.
Mas todos acham fantásticos, pois alguém de tão longe fala do lugarejo, transformando-o, agora em um “lugar” no mundo.
Quanto aos que de fato são o vilarejo espalhados pelo mundo, estes são vistos como os ingratos filhos, os loucos.
Não sou poeta e sim um andarilho.
Poetas são os outros!
Na minha Aldeia sempre serei o louco, que escreve torto em retas linhas.
Que não tem métrica ou estética.
Pois Poeta bom é “Poeta” morto, vindo de algum lugar distante.
De preferência que seja amigo do rei.
Viva os andarilhos!
Que em outras paragens fazem versos sem intenção de ser poemas, transformam o concreto em fantasia, fazendo do seu caminhar um portal de acesso a sua Aldeia.
Viva os loucos!
Que com seus versos tortos, tornam a reta vida, sinuosa e cheia de surpresas a cada curva.
Mesmo que absurdas as suas vidas, são reais e absolutamente próprias..."
("Viva a Minha Aldeia!" , by Carlos Ventura)
