Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), nasceu na fazenda Cabaceiras, a sete léguas (42 km) da vila de Nossa Senhora da Conceição de “Curralinho”, hoje Castro Alves, no estado da Bahia, em 14 de março e morreu na capital baiana em 06 de julho de 1871, com apenas 24 anos.
Poeta
Romantico, Castro Alves era um homem a frente do seu tempo.
Saiba
mais sobre Castro Alves:
Castro
Alves não foi o primeiro poeta romântico a tratar do tema da escravidão. Antes
dele, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e outros abordaram a questão. No entanto,
nenhum poeta foi mais veemente e engajado à causa social e humanitária do
abolicionismo como ele. Castro Alves procurou aprofundar as implicações humanas
da escravatura adequando a sua eloqüência condoreira à luta abolicionista.
Retrata o escravo de modo romanticamente trágico para despertar a sociedade,
habituada a três séculos de escravidão, para o que há de mais desumano neste regime.
O maior exemplo deste retrato está em A Cachoeira de Paulo Afonso, longo poema
narrativo, escrito em 1870, que conta a história de amor de dois escravos,
Lucas e Maria, pintada com fortes cores dramáticas.
Condoreirismo
Castro
Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que
predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870, denominado condoreiro por
Capistrano de Abreu (1853-1927). É caracterizado por uma poesia retórica,
repleta de hipérboles e antíteses, em que se destacam os temas sociais e
políticos, principalmente a defesa da abolição da escravatura e a apologia da
república.
Os
poetas condoreiros foram influenciados diretamente pela poesia social de Vitor
Hugo – o Condoreirismo é o hugoanismo brasileiro. De teor declamativo e pendor
social, um de seus símbolos mais freqüentes é a imagem do condor dos Andes,
pássaro que representa a liberdade da América, o que sugeriu a Capistrano de
Abreu a denominação dada ao estilo.
Outros
poetas, como Tobias Barreto (1839-1889), José Bonifácio, o Moço (1827-1886) e
Pedro de Calasãs (1837-1874) cultivaram e defenderam o condoreirismo enquanto
poesia de tese (científica), pública, política, rimando artigos de fundo de
jornal, metrificando manifestos do abolicionismo e proclamações republicanas.
Era
filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade de
Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o
poeta tinha 12 anos. Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a
capital, estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro barão de Macaúbas,
onde foi colega de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e precoce para
a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os preparatórios e,
depois de duas vezes reprovado, matriculou-se na Faculdade de Direito em 1864.
Cursou o 1º ano em 65, na mesma turma que Tobias Barreto. Logo integrado na
vida literária acadêmica e admirado graças aos seus versos, cuidou mais deles e
dos amores que dos estudos. Em 66, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou a
apaixonada ligação amorosa com Eugênia Câmara, que desempenhou importante papel
em sua lírica e em sua vida.
Nessa
época Castro Alves entrou numa fase de grande inspiração e tomou consciência do
seu papel de poeta social. Escreveu o drama Gonzaga e, em 68, vai para o Sul em
companhia da amada, matriculando-se no 3º ano da Faculdade de Direito de São
Paulo, na mesma turma de Rui Barbosa. No fim do ano o drama é representado com
êxito enorme, mas o seu espírito se abate pela ruptura com Eugênia Câmara.
Durante uma caçada, a descarga acidental de uma espingarda lhe feriu o pé
esquerdo, que, sob ameaça de gangrena, foi afinal amputado no Rio, em meados de
69. De volta à Bahia, passou grande parte do ano de 70 em fazendas de parentes,
à busca de melhoras para a saúde comprometida pela tuberculose. Em novembro,
saiu seu primeiro livro, Espumas flutuantes, único que chegou a publicar em
vida, recebido muito favoravelmente pelos leitores.
Daí
por diante, apesar do declínio físico, produziu alguns dos seus mais belos
versos, animado por um derradeiro amor, este platônico, pela cantora Agnese
Murri. Faleceu em 1871, aos 24 anos, sem ter podido acabar a maior empresa que
se propusera, o poema Os escravos, uma série de poesias em torno do tema da
escravidão. Ainda em 70, numa das fazendas em que repousava, havia completado A
cascata de Paulo Afonso, que saiu em 76 com o título A cachoeira de Paulo, e
que é parte do empreendimento, como se vê pelo esclarecimento do poeta:
“Continuação do poema Os escravos, sob título de Manuscritos de Stênio.”
Duas
vertentes se distinguem na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa,
mesclada da sensualidade de um autêntico filho dos trópicos, e a feição social
e humanitária, em que alcança momentos de fulgurante eloqüência épica. Como
poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que
exprime o amor, como desejo, frêmito, encantamento da alma e do corpo,
superando completamente o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de
Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e
fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica,
reorganizando-lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas
de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e encantamentos
constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas.
Enquanto
poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais
do século XIX, Castro Alves viveu com intensidade os grandes episódios históricos
do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República,
devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a
antonomásia de “Cantor dos escravos”. A sua poesia se aproxima da retórica,
incorporando a ênfase oratória à sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o
orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se
encontram na eloqüência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal
encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade.
Dele
ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira
ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como
realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do
próprio destino humano, presa dos desajustamentos da história. Encarna as
tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século. O negro,
escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, não se
podia elevar a objeto estético. Surgiu primeiro à consciência literária como
problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário
pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. Só Castro Alves
estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói,
como ser integralmente humano.
Escreveu:
“Espumas
Flutuantes”, escrita em 1870; “Gonzaga ou a Revolução em Minas”, (1875);
“Cachoeira de Paulo Afonso“, (1876); “Vozes, D’África” e “Navio Negreiro“,
(1880); “Os Escravos”, (1883), etc. Em 1960 publicou-se sua Obra Completa,
enriquecida de peças que não figuram nas Obras Completas de Castro Alves,
editadas em 1921.
Castro
Alves foi um discípulo de Victor Hugo a quem chamava “mestre do mundo, sol da
eternidade”. Poeta social, lírico, patriótico, foi um dos primeiros
abolicionistas e, ao poetar sobre a escravidão, inflamava-se eloqüentemente,
chegando a elevar-se pelo arrojo das metáforas, pelo atrevimento das
apóstrofes, pelas idéias do infinito, amplidão, pelo vôo da imaginação, o que
motivou o título dado por Capistrano de Abreu de “condoreiro”, que comparou sua
poesia ao vôo de um condor.
Castro
Alves amou o oprimido com sentimento de justiça sendo este o traço básico da
sua personalidade. A desarmonia da alma romântica não é produzida, segundo ele,
por conflitos do espírito mas por conflitos entre o homem e a sociedade, o
oprimido e opressor. É uma nova forma da existência da dualidade romântica do
bem e do mal. A sua tese social é trazida muito abstratamente e será o primeiro
exemplo de literatura “engage” que se vê no Brasil.
O
ideal para Castro Alves é o gênio (homem) símbolo das lutas pela justiça e pela
libertação. Vive seu espírito em constantes conflitos à procura de soluções.
Esse ideal faz com que o poeta busque na retórica a sua forma de expressão que
muitas vezes se apresenta vazia e sem nexo, apoiada apenas em combinações
sonoras. Esse abuso é uma influência da época que muito prestigiava a oratória.
Um defeito a ser apontado no seu estilo é o abuso e a superposição de imagens e
de aposições. Porém, alcança um belo sublime, bem distante das banalidades
românticas.
Enquanto
outros poetas como Gonçalves Dias, tomam o índio como herói, tomou Castro Alves
o negro, nada estético, tido como de casta inferior na sociedade, sem nenhum
valor mítico. O índio foi um herói bem mais fácil de ser forjado, pois existia
apenas como mito, não participava da sociedade e tinha valor heróico, por causa
da sua tradição guerreira. Assim, o negro, em Castro Alves, é quase sempre um
mulato com feições e sensibilidade de um branco. O amor será tratado como um encantamento
da alma e do corpo e não mais como uma esquivança ou desespero ansioso dos
primeiros romances.
A
canção do africano
Lá
na úmida senzala,
Sentado
na estreita sala,Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão …
De
um lado, uma negra escrava
Os
olhos no filho crava,Que tem no colo a embalar…
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
“Minha
terra é lá bem longe,
Das
bandas de onde o sol vem;Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
“0
sol faz lá tudo em fogo,
Faz
em brasa toda a areia;Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
“Aquelas
terras tão grandes,
Tão
compridas como o mar,Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar …
“Lá
todos vivem felizes,
Todos
dançam no terreiro;A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro”.
O
escravo calou a fala,
Porque
na úmida salaO fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
……………………….
O
escravo então foi deitar-se,
Pois
tinha de levantar-seBem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a
cativa desgraçada
Deita
seu filho, calada,E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!
Castro
Alves
*Curiosidades:
Seu túmulo se encontra sob os pés da sua estátua, na praça que leva seu nome
(Praça Castro Alves) no centro de Salvador-Ba.
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