A
Oficina de Tradução do Festival de Poesia de Berlim de 2012 será dedicada à
poesia brasileira. Seis poetas nacionais e seis alemães, mediados por um
tradutor, adaptarão as obras uns dos outros durante a 13ª edição do evento, a
ser realizada entre 1º e 9 de junho. Os nomes dos participantes acabam de ser
definidos.
Do
lado brasileiro, estarão os autores Jussara Salazar, Horácio Costa, Ricardo
Aleixo, Marcos Siscar, Dirceu Villa e Érica Zíngano. Do lado alemão, marcarão presença Ann Cotten, Jan
Wagner, Christian Lehnert, Ulf Stolterfoht, Barbara Köhler e Gerhard Falkner. O
resultado da oficina será uma antologia binacional e bilíngue, a ser publicada
em 2013 pelas editoras 7Letras, no Brasil, e Das Wunderhorn, na Alemanha.
De
acordo com a proposta do projeto de traduções, realizado desde 2002, os autores
trabalham em conjunto, aos pares, com a ajuda de um intérprete. Após o tradutor
preparar uma versão bruta dos textos, os poetas passam dias trabalhando em cima
dos poemas. Eles se envolvem diretamente no processo de tradução,
preocupando-se com rimas, ritmo e sentido.
O
poeta brasileiro Ricardo Domeneck, residente em Berlim, foi convidado neste ano
pela Literaturwerkstatt – organizadora do Festival – para realizar a curadoria
da Oficina de Traduções e escolher os autores brasileiros. “Eram apenas seis
poetas e era impossível representar todo o Brasil. Então, a minha preocupação
primordial foi a qualidade dos textos”, diz. “Também me preocupei em que fossem
poetas que ainda não tivessem sido traduzidos na Alemanha.”
Língua
portuguesa
Curador
Domeneck: “Era impossível representar todo o Brasil. Preocupação primordial foi
a qualidade dos textos”
Jussara
Salazar ficou contente, porém apreensiva ao receber o convite para participar
da oficina em Berlim, por não ter conhecimentos de alemão. A pernambucana, que
vive em Curitiba há mais de 20 anos, já participou de outros projetos ligados à
poesia no exterior – como uma leitura de poemas latino-americanos na
Universidade de Nova York, por exemplo. Mas esta será sua primeira vez em um
festival internacional.
“Existe
sempre a barreira da língua, porque o português não é um idioma muito conhecido
fora dos países de língua portuguesa. Por isso, há certa dificuldade em haver
trocas entre poetas brasileiros e de outros países”, considera Salazar. Para a
poeta, a oficina berlinense é interessante justamente por envolver a tradução,
que torna o diálogo viável.
“A
ideia de trabalharmos uns com os poemas dos outros é fantástica. Porque a
língua não é só um código que usamos para nos comunicar. Ela carrega consigo
uma cultura. Portanto, a oficina será um encontro de culturas”, aposta a
escritora.
O
poeta alemão selecionado para fazer par com Salazar foi Christian Lehnert,
formado em Teologia. Assim como com relação aos demais autores, a escolha do
par levou em conta afinidades entre os escritores dos dois países. Neste caso,
o que os uniu foi a religiosidade, tema que permeia a obra de Salazar.
Brasil
em destaque
O
Brasil não foi escolhido para a Oficina de Tradução deste ano por acaso. “Em
2013, o Brasil será o país homenageado da Feira do Livro de Frankfurt, e esta é
uma ótima oportunidade de apresentar a antologia teuto-brasileira que resultará
da oficina”, considera Aurélie Maurin, coordenadora das oficinas de tradução da
Literaturwerkstatt Berlin. Além disso, ela destaca que 2013-2014 também será o
ano da Alemanha no Brasil, e há planos de promover um grande lançamento do
livro também em terras brasileiras.
“Trata-se
de muito mais do que uma oficina de tradução. Há um diálogo direto entre os
poetas. E os resultados são muito impressionantes, pois é raro que autores
participem da tradução de seus próprios textos. Talvez fosse melhor falar em
releituras do que em tradução”, destaca Maurin sobre o projeto.
O
curador Ricardo Domeneck acredita que a iniciativa seja importante por “incentivar
os escritores vivos e que estão produzindo agora”. Ele mesmo já participou da
Oficina de Tradução organizada pela Literaturwerkstatt em 2008, a qual se
dedicou a poetas de língua portuguesa. Também já houve edições do projeto e
antologias publicadas em francês, árabe, polonês, espanhol e inglês.
Domeneck
lamenta a escassez de obras de escritores brasileiros traduzidas na Alemanha e
no mundo. Após dez anos vivendo em Berlim, ele comemora agora a tradução para o
alemão de seu mais recente livro, Ciclo do amante substituível, a ser publicado
em breve no país. O poeta, assim como a coordenadora do projeto, espera que os
seis escritores brasileiros convidados para a oficina deste ano estendam o
diálogo com a Alemanha para além do festival, e que a iniciativa resulte em
mais colaborações futuras.
Autora:
Luisa Frey
Revisão:
Augusto Valente
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